Orson Welles dirigiu, escreveu, produziu e atuou em clássicos de rádio, TV e cinema -- dentre os quais Cidadão Kane, Macbeth, Othelo, Rei Lear, Cassino Royale e Édipo Rei -- suficientes para virar verbete de enciclopédia. Mas Orson Welles também participou de produções mais obscuras, tão obscuras que nem foram lançadas em vídeo no Brasil: Jane Eyre, por exemplo.
Baseado no romance gótico de Charlotte Brontë, irmã mais velha de Emily "O morro dos Ventos Uivantes" Brontë, Welles encarnou Edward Rochester na quarta refilmagem, em 1944 [as duas primeiras foram ainda na época do cinema mudo]: nobre, rico e proprietário de Thornfield Hall, castelo em que Jane Eyre é a preceptora de Adele Varens, tutelada de Rochester.
Eyre, a personagem principal interpretada por Joan Fontaine, é a órfã educada num rígido colégio interno desde os seis anos de idade após ser rejeitada por sua tia [Agnes Moorehead, a Endora do seriado "A Feiticeira"]. Esta versão conta também com a participação não creditada de Elizabeth Taylor como a melhor amiga de Eyre no internato.
Tal como o Heathcliff de Emily, o Rochester de Charlotte é o personagem mais complexo. Seu castelo, repleto de quartos escuros e portas trancadas, é a personificação perfeita de seu dono e ele mantém esqueletos no sótão literalmente. Rochester também obriga Eyre a optar entre o que é moral e o que é certo: "For the world's judgement-I wash my hands thereof. For man's opinion-I defy it." Nas palavras de Charlotte em seu prefácio:
"Conventionality is not morality. Self-righteousness is not
religion. To attack the first is not to assail the last. To pluck
the mask from the face of the Pharisee, is not to lift an impious
hand to the Crown of Thorns."
O livro completo pode ser lido, em inglês, no seguinte endereço: http://www.inform.umd.edu/EdRes/ReadingRoom/Fiction/CBronte/JaneEyre/ Na quinta versão para o cinema [disponível em vídeo], em 1996, o diretor Franco Zefirelli manteve maior fidelidade ao romance, abordando passagens ignoradas em 1944 mas Charlotte Gainsbourg não é Joan Fontaine e William Hurt não é Orson Welles.
quarta-feira, junho 09, 2004 ::: Presente de Aniversário
Como não podia deixar de ser, eu também sou fã do livro O Diário de Anne Frank, lido pela primeira vez na adolescência, relido em oportunidades outras ao longo dos anos. Até tive um diário um pouco por causa desse livro, inclusive. Não podia deixar de me emocionar com essa notícia e repassar aqui. Ah, chamo a atenção para o fato de que estou morrendo de inveja dos provavelmente milhares de seres humano que verão as fotos ao vivo. Espero que coloquem na rede!
Fotos da família de Anne Frank serão expostas na Europa
08/06/04 16:12
Por Paul Gallagher
AMSTERDÃ (Reuters) - Fotos pessoais da família de Anne Frank serão expostas em Amsterdã e Berlim esta semana, quando será comemorado o 75o aniversário do nascimento da adolescente judia morta no Holocausto que teve seu diário mundialmente conhecido. O anúncio foi feito na terça-feira pelos organizadores da mostra.
"O Diário de Anne Frank", em que a garota descreve os dois anos que sua família passou num esconderijo durante a ocupação alemã da Holanda, durante a 2a Guerra Mundial, é o documento mais lido a ter saído do Holocausto.
No site você insere uma foto [sua, do seu par, do seu cãozinho, qualquer coisa viva que tenha dois olhos] e descobre com qual famoso se parece, de acordo com análise de elementos do rosto.
No meu caso a única que reconheci foi Tyra Banks - e acho que o único elemento levado em consideração foi a franja. LOL!!
Wolverine é um mutante canadense que tem os ossos revestidos com adamantium, o metal mais forte do mundo, com lâminas retráteis do mesmo material nas mãos e capacidade regenerativa que o tornam quase imortal.
Hulk é a face Mr. Hyde do doutor Bruce Banner, um monstro verde irracional que assume o corpo de Banner em momentos de raiva ou estresse *e* que também conta com um fator de regeneração.
Dizem que o personagem Wolverine foi lançado nas historinhas do Hulk, então não é surpresa que eles contracenem eventualmente. Além disso, eles têm em comum um mau-humor só comparável à força física de ambos. Mau-humor, regeneração e força bruta só podem resultar no óbvio quando os dois se encontram: muita porrada!
Agora eles estão perdidos nas montanhas e precisam salvar a vida de uma garotinha de sete anos e seu pai, que caíram de avião num lago. O roteirista e desenhista Sam Kieth mistura várias técnicas de desenho e cria uma história a la "O Sexto Sentido" [The Sixth Sense, EUA/1999] que não dá pra largar enquanto não chega a última página. Veja aqui algumas páginas da minissérie. O colorista é Richard Isanove, da saga Origem [Origins]. E aqui um resumo excelente da trama [contém spoilers].
segunda-feira, junho 07, 2004 ::: Não podia ser diferente
Sexta feira estreou nos cinemas brasileiros o esperadíssimo terceiro filme da série Harry Potter, levando no final de semana milhares de fãs às telonas, inclusive esta que aqui escreve. Pois bem, ao meio-dia do sábado lá estava eu, confortavelmente comprando meu ingresso e o da prole, e após o almoço a sobremesa foi Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, acompanhado por bombons, jujubas e guloseimas mais. Antes de qualquer coisa adianto que essa análise vai embaçada pelo fato de haver pego a sessão das duas da tarde, cercada de no máximo quinze adultos que não controlavam trocentas indóceis crianças, o que se tornou muito mais grave quando faltou energia por quinze minutos, exatamente na hora que o Professor Lupin ensinava o patrono a Harry! Bom, por isso tudo, planejo pegar, solitariamente, se Deus quiser, uma sessão legendada em breve.
Daqui para a frente, quem quiser ter surpresas não leia mais, ok? Spoilers...
Minhas primeiras impressões sobre o filme foram bem óbvias para quem está se tornando uma admiradora obsessiva dessa historinha como eu : claro que não fiquei satisfeita com as ausências de pontos bem importantes da trama, embora esteja certa de que este filme é o melhor até então produzido da série, e apesar de estar tentando raciocinar em termos do filme HP e PDA e não em termos do livro HP e PDA. Mas não dá para não dizer que continuo a achar o livro incomparavelmente melhor. O próprio Cuáron previu isto e li em mais de uma resenha que ele tinha sido corajoso em abster-se do rigor na fidelidade ao universo criado pela J.K.Rowling, perante a multidão fanática de pottermaníacos. De fato. De qualquer maneira, vamos e venhamos, algumas das novidades foram maravilhosas: traduzir a gélida sensação de terror que os dementadores provocam fazendo tudo congelar (o lago, as plantas, o vidro da janela); fazer Harry adorar o vôo no hipogrifo , o que gerou em minha opinião uma das cenas mais arrepiantes do filme, apesar de contradizer o que no livro de fato aconteceu (Harry detestou!). São pontos a favor de Cuáron e o roteirista Steven Kloves.
Mas nem tudo são flores. Essencial para o prosseguimento da história, quem já leu sabe, é entender a relação entre alguns personagens que passarão a ser principais a partir de agora, os amigos do pai de Harry (Lupin, Black e Pettigrew). O final de PDA, o livro, traz informações demais sobre a trama; em minha opinião, não chegou a ser infeliz a transposição para o filme dessa sequência final, que considero ( e milhares também, adianto) a melhor da série escrita. De fato, muita coisa desnecessária foi cortada de forma razoável. O problema, entretanto, é que parece que a tesoura foi longe demais: o trecho em que Lupin explica a Harry todo o passado que envolve sua tragédia, e que já vinha sendo ?mastigado? ao longo das páginas em outras passagens, no filme resumiu-se a algumas frases apressadas gritadas na alcova de Sirius. Não estou muito certa se quem não leu o livro vai captar muito bem o que realmente interessa.
As crianças estão um pouco melhores em suas atuações, mas ainda insuficientemente; de tal forma os personagens foram associados a imagem dos três atores que interpretam os amigos Harry, Rony e Hermione, que realmente é complicado lidar com o fato deles estarem crescendo, fazendo ficar cada vez mais difícil afastá-los do clichê, da canastrice até, eu diria. O que acho que realmente seria necessário era um investimento pesado na melhoria técnica deles, embora tenha consciência de que isso não é nada simples. Além do mais, eles serão visualmente adultos no próximo filme. Viram os músculos de Rony naquela cena no dormitório em que brincam de animais?
Os professores também continuam muito bons. Embora dê conta do recado, Michel Gambom não supera o anterior Dumbledore, Richard Harris, mas essa é uma opinião bem pessoal, quase todo mundo diz exatamente o contrário. David Thewlins como Lupin está ótimo, Alan Rickman continua um Snape arrassador. As novidades Emma Thompson e Gary Oldman, tão aclamadas, a mim pareceram competentes, nada de excepcional. Timothy Spall, o homem-rato, sim, está surpreendente.
Os efeitos visuais são um capítulo a parte. Estão perfeitamente integrados a paisagem, os dementadores e o lobisomem metem medo meeeeeesssssmmmmmoooooo, o hipogrifo é belíssimo, a paisagem também, e está diferente daquela vista nos filmes anteriores, muito mais dark. A intenção de Cuáron de fazer a tela ficar mais ?suja? em PDA foi tão forte que encheu de poeira o quarto de Harry na hospedaria, que no livro é limpo e arejado.
Ah, quase esquecia. O tema Something Wicked This Way Comes também é um capítulo a parte. Arrasou, para variar, o John Williams.