sexta-feira, setembro 24, 2004 ::: Continua Lindo por Marcelo Batalha
Na saída do cinema, encontrei um Rio engarrafado. Sexta-feira, inicio de noite, horário de rush, eu de ônibus, ou no máximo metrô.
Ônibus ? Metrô ? Já que saí tão bem do filme, por que não ir para o final de Copacabana... a pé ? Uma grande caminhada, com certeza, mas eu não tinha compromisso depois mesmo.
E então saí do Largo do Machado, passeando por suas ruas internas, suas padarias e cachorros a passeio, chegando ao Flamengo, bairro tão curto que dependendo do caminho que você faça desemboca em Botafogo tão rápido que nem se percebe.
Acabei saindo na praia de Botafogo, quase em frente à igreja onde me casei, a linda Imaculada Conceição, certamente uma das mais bonitas igrejas do Rio. Entrei, rezei, sentei, me comovi. Lembranças que não voltam mais. Mas já voaram, ao vento.
Depois fui andando por Botafogo, e pude confirmar aquela sensação de que o Rio é um mar (sem trocadilhos) de cinemas... Entre o Largo do Machado e minha casa, conta-se as salas reformadas do São Luis, o velho e grande Estação Paisandu, com suas poltronas vermelhas (onde assisti o filme), os diversos cinemas do Botafogo Praia Shopping (onde também entrei e passeei um pouco), as bem frequentada salas do Estação Unibanco e do Estação Botafogo (este exatamente ao lado de um prédio onde morei antes de casar, e que pude rever também), e também as salas do Rio Sul, o Jóia e do Roxy, estas já perto de casa. No total, umas 30 salas de cinema em uma única caminhada, fora os inúmeros que fecharam nas últimas décadas e viraram coisas surreais: Coral, Scala, Veneza, Copacabana...
Ainda em Botafogo passei por dentro do Hortifruti, agora reformado, e ao sair, por trás, aquelas lojinhas espremidas e suas mesinhas, um pequeno palco, onde uma cantora de boa voz cantava "Romaria", pecando apenas por quere imitar Elis.
De lá, as ruas paralelas à Rua da Passagem, com ares de subúrbio, até chegar na Alvaro Ramos, em frente a General Severiano e ao antigo Rio Off Price, hoje Rio Plaza Shopping ou algo parecido. Pensei em ir ao Armazem Digital, mas optei por não atravessar a passagem e seguir por dentro do túnel, coisa que anos atrás eu achava impensável, com medo do perigo. Dali segui Barata Ribeiro, passando em frente do sempre disputado Cervantes e seus sanduíches enormes, os supermercados de Copacabana, suas dezenas de farmácias, as primeiras prostitutas nas ruas internas, até chegar à Nossa Senhora de Copacabana e seus camelôs vendendo os DVDs de filmes que nem chegaram ainda aos cinemas.
O Rio é violento ? Sim, claro que sim.
Mas o Rio dá medo ? Não, definitivamente não.
E é, e sempre será, na sua diversidade (e olha que eu nem falei de praias e natureza exuberante), uma cidade maravilhosa.
Vendo no blog do Marcelo a notícia de que será Olga o filme a concorrer pela Brasil à uma das cinco vagas de melhor filme estrangeiro do Oscar 2005, posto aqui os comentários feitos na lista ena acerca do filme, por mim e pelo querido Conde Chadel.
Conde - Fui ontem assistir Olga. Embora com atuações excelentes, de modo geral
não gostei do filme. É mais um desses que o livro é muito melhor,
muito mesmo. Jayme Monjardim se preocupou mais com o romance entre a
Olga e o Luis Carlos Prestes, e menos com o rigor histórico. Quem leu
o livro do Fernando Morais ou mesmo "Olga Benario" de uma escritora
alemã que não consigo encontrar agora na minha biblioteca bagunçada,
verá que não existe no filme a preocupação com os detalhes. Filinto
Muller, o temido diretor da Polícia de Vargas, aparece quase que como
um funcionário público cumprindo seu dever, quando se sabe que na
realodade era um dos policiais mais cruéis e sanguinários, uma
vergonha nacional. Morreu em 1973 sem que se fizesse justiça, no mesmo
avião da Varig que caiu em Orly, onde também estava Agostinho dos
Santos
Sweet - Coincidentemente, assisti a Olga ontem tb. Mas ao contrário do Conde,
gostei do filme. Eu já li o livro, a muitos, muitos anos, e talvez
por isso não me prendi muito a a velha comparação livro/filme, na
qual em geral a tendência é de q gostemos mais da versão em papel
mesmo. Qto ao tal diretor de polícia, não concordo q tenha sido
apresentado como mero cumpridor de obrigações, mas muito mais como um
homem vingativo, não? De fato, o cara não chega a ser demonstrado
como sanguinário, mas cruel, sim. As torturas estão no filme, as
perseguições tb, a covardia do sistema, q chega a fingir q vai mandá-
la para um hospital para enviá-la à deportação, enfim, não são cenas
que cheguem a chocar pela violência, mas acredito q provavelmente foi
uma certa aposta do diretor em não mostrar muita brutalidade e
sangue. O foco está na trama da separação da família, da gravidez de
Olga na prisão; de fato, embora não tenha muita lembrança sobre o
livro, recordo q o romance em si dos dois não era enfatizado nele,
mas acredito q o filme conseguiu fazer uma leitura relativamente
completa da biografia dela, iniciando na origem de família burguesa,
sua relação com a própria família, o início na vida revolucionária, a
formação militar, o encontro com Prestes, q não pode ser considerado
pouco fundamental em sua trajetória se traçou seu destino, não é
verdade? Foi essa msg q me passou a história. Há foco em seu perído
de prisioneira nos campos de concentração e, sinceramente, não acho q
a brutalidade da Era Vargas tenha sido comparável ao holocausto que
ocorreu na Alemanha Nazista, embora seja igualmente deplorável. No
filme é justamente isso q é apresentado. O governo Vargas é
apresentado como ditatorial, sacana, terrível, mas o ápice de seu
desmando é apresentado como o envio de uma judia a um campo de
prisioneiros na Alemanha de Hitler ("um presente para Hitler").
Quanto a produção, achei excelente. Acho inclusive q o filme é uma
grande possibilidade para o Oscar de Filme Estrangeiro do próximo
ano. Parece q estão ele e Cazuza entre os pré-candidatos (né,
Marcelo?), mas este último não vi.